Não é de hoje que o sistema educacional brasileiro não é levado a sério. Somos governados por indivíduos que não consideram urgentes os investimentos em educação. Indivíduos estes que não entendem a importância da educação na formação do povo, que não percebem que ela é o pilar fundamental da sociedade. Quando falta educação, tudo o que é de pior se multiplica: desemprego, pobreza, violência, dentre outros diversos males com os quais já estamos mais do que acostumados a conviver no Brasil.
A última falha em relação à educação em nosso País foi o Exame Nacional de Ensino Médio, o Enem. Apesar dos diversos erros cometidos – fraude, desvio de provas, erro de montagem dos cadernos de questões etc. –, o presidente da República e seu ministro da educação insistem em dizer que o processo foi um sucesso. Outra realidade cada vez mais comum no Brasil é contar uma mentira várias vezes até que esta vire uma verdade absoluta.
O ministro da educação, Fernando Haddad, diz que não há necessidade de todos os estudantes fazerem novamente as provas e, aparentemente, ignora as afirmações de que as provas foram desviadas antes do processo. Já o presidente Lula diz que será feito o que for necessário. Diante destes fatos algumas questões não podem deixar de serem feitas: o quão confiável é este processo que precisa ser refeito por questões de despreparo e inabilidade da sua própria organização? Quanto custará para o bolso do brasileiro, frequentemente assaltado de todas as formas imagináveis, essa nova elaboração de provas?
Não foi a primeira vez que o ENEM apresentou problemas. Em 2009 as provas foram roubadas, o que acarretou na sua remarcação para outra data. No mesmo ano o gabarito de respostas foi divulgado com diversos erros.
Os que governam o País hoje nasceram e cresceram em um Brasil onde educação era artigo de luxo. Atualmente a realidade não é muito diferente, apesar de a propaganda governista dizer o contrário, o acesso à educação de qualidade está a anos-luz dos mais necessitados. O ensino público é deficiente e mesmo os indivíduos que se sacrificam, combinando estudo com trabalho, com fome, com privação, não recebem a dedicação, o afeto, a dignidade que merecem. Não é por serem fruto, e muitos deles são fiéis representantes, deste Brasil mal-educado, que nossos governantes devem negar ao povo o direito de uma educação digna.
Caso o próximo governo pretenda continuar dando ao Enem, dentre todas as suas outras funções, a responsabilidade de substituir a primeira fase do processo seletivo das universidades públicas brasileiras, é necessário que tenha maior cuidado na organização do exame, escolhendo pessoas e instituições capazes, para que o fiasco de 2010 não se torne regra.
Está na hora de a educação sair do segundo plano no Brasil. O conceito é bem simples: um país que investe na educação do seu povo é um país avançado, onde são construídas mais escolas e menos cadeias, onde a ignorância e a soberba cedem espaço para sapiência e a humildade, onde a sociedade é esclarecida e tem mais embasamento crítico para tomar decisões importantes, como, por exemplo, escolher seus governantes. Ou será que ainda é de interesse dos que governam manter o povo na ignorância?
Este texto foi originalmente publicado no jornal O Liberal do dia 13/11/2010