VerdadeSejaDita

Por um Brasil menos mal-educado

Posted by Gabriel Lage Neto em 16/11/2010

Não é de hoje que o sistema educacional brasileiro não é levado a sério. Somos governados por indivíduos que não consideram urgentes os investimentos em educação. Indivíduos estes que não entendem a importância da educação na formação do povo, que não percebem que ela é o pilar fundamental da sociedade. Quando falta educação, tudo o que é de pior se multiplica: desemprego, pobreza, violência, dentre outros diversos males com os quais já estamos mais do que acostumados a conviver no Brasil.

A última falha em relação à educação em nosso País foi o Exame Nacional de Ensino Médio, o Enem. Apesar dos diversos erros cometidos – fraude, desvio de provas, erro de montagem dos cadernos de questões etc. –, o presidente da República e seu ministro da educação insistem em dizer que o processo foi um sucesso. Outra realidade cada vez mais comum no Brasil é contar uma mentira várias vezes até que esta vire uma verdade absoluta.

O ministro da educação, Fernando Haddad, diz que não há necessidade de todos os estudantes fazerem novamente as provas e, aparentemente, ignora as afirmações de que as provas foram desviadas antes do processo. Já o presidente Lula diz que será feito o que for necessário. Diante destes fatos algumas questões não podem deixar de serem feitas: o quão confiável é este processo que precisa ser refeito por questões de despreparo e inabilidade da sua própria organização? Quanto custará para o bolso do brasileiro, frequentemente assaltado de todas as formas imagináveis, essa nova elaboração de provas?

Não foi a primeira vez que o ENEM apresentou problemas. Em 2009 as provas foram roubadas, o que acarretou na sua remarcação para outra data. No mesmo ano o gabarito de respostas foi divulgado com diversos erros.

Os que governam o País hoje nasceram e cresceram em um Brasil onde educação era artigo de luxo. Atualmente a realidade não é muito diferente, apesar de a propaganda governista dizer o contrário, o acesso à educação de qualidade está a anos-luz dos mais necessitados. O ensino público é deficiente e mesmo os indivíduos que se sacrificam, combinando estudo com trabalho, com fome, com privação, não recebem a dedicação, o afeto, a dignidade que merecem. Não é por serem fruto, e muitos deles são fiéis representantes, deste Brasil mal-educado, que nossos governantes devem negar ao povo o direito de uma educação digna.

Caso o próximo governo pretenda continuar dando ao Enem, dentre todas as suas outras funções, a responsabilidade de substituir a primeira fase do processo seletivo das universidades públicas brasileiras, é necessário que tenha maior cuidado na organização do exame, escolhendo pessoas e instituições capazes, para que o fiasco de 2010 não se torne regra.

Está na hora de a educação sair do segundo plano no Brasil. O conceito é bem simples: um país que investe na educação do seu povo é um país avançado, onde são construídas mais escolas e menos cadeias, onde a ignorância e a soberba cedem espaço para sapiência e a humildade, onde a sociedade é esclarecida e tem mais embasamento crítico para tomar decisões importantes, como, por exemplo, escolher seus governantes. Ou será que ainda é de interesse dos que governam manter o povo na ignorância?

 

Este texto foi originalmente publicado no jornal O Liberal do dia 13/11/2010

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Responsabilidade e justiça

Posted by Gabriel Lage Neto em 01/03/2010

Eventualmente o assunto erro médico ocupa as manchetes de jornais. Esta é uma questão tão delicada que deve ser tratada com a maior cautela possível. Nesses casos, como saber quando um profissional realmente errou ou quando tudo o que havia para ser feito foi realizado e mesmo assim não foi possível evitar uma fatalidade?

Muito se fala que tais fatos são normais, que pessoas desesperadas precisam culpar alguém por sua infelicidade, que todos nós iremos morrer mesmo um dia e não há nada a fazer. É óbvio que nunca se deve jogar o nome de um profissional na lama sem a certeza de que o mesmo cometeu um erro, porém, é extremamente difícil encarar como acerto fatalidades como seqüelas que afetarão toda a vida e até mesmo a morte de pessoas extremamente jovens.

Creio que existam muitas de famílias enlutadas ou que precisam conviver com os resultados de operações mal sucedidas pelo resto da vida e nunca tenham sequer cogitado punir legalmente os responsáveis pelo seu sofrer. Talvez por resignação, desamparo ou por falta de confiança na justiça dos homens.

Casos como esses precisam realmente ser estampados em outdoors, noticiários televisivos e manchetes de jornais. A sociedade precisa saber diferenciar quem são os profissionais de confiança e quem são os irresponsáveis que agem como se a vida humana não tivesse valor e conseguem escapam impunes.

Por mais que estejam passando por momentos difíceis, as famílias envolvidas devem clamar por justiça, expor a sua dor para que outros não passem futuramente pelo mesmo calvário. É necessário que a insensatez de tais profissionais seja alardeada, que eles paguem uma pena tão pesada, ou até maior, do que criminosos propriamente ditos. Pois eles, ao contrário destes, possuíam a confiança de suas vítimas.

A estes profissionais exageradamente bem remunerados deve-se pedir somente uma coisa: responsabilidade. Se os mesmos não respeitam os votos que fizeram na ocasião de suas formaturas, que façam então valer todo o dinheiro que ganham do cidadão, que precisa gastar muito quando tem cuidar de sua saúde.

A justiça dos homens, por ser absurdamente falha, não traz conforto algum às famílias prejudicadas. Mas, felizmente, todos podem contar com a justiça divina, que, ao contrário da terrena, nunca falha e sempre está alerta a tudo.

Este texto foi originalmente publicado no jornal O Liberal do dia 27/02/10

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Cidadania em trânsito

Posted by Gabriel Lage Neto em 28/11/2009

Tenho notado um crescente descaso dos cidadãos de Belém com o bem-estar do próximo, principalmente no trânsito. Não é raro vermos motoristas que param em cima da faixa de pedestres quando o sinal fica vermelho, isso quando resolvem parar, pois outra coisa que se tornou bastante comum é o ato de “furar” o sinal, mesmo quando ainda é dia claro. O motivo disso? Medo? Insegurança? Pressa? Ou a simples vontade de desrespeitar as leis e pôr a vida de muitos, e também a sua própria, em risco? Não sei dizer.

E o que falar daqueles impacientes ou imprudentes que, em meio a um engarrafamento, aproveitam o último segundo de sinal aberto para colocar seus veículos no meio da rua, na ânsia de garantir que, tão logo a fila ande, não terão que esperar novamente pelo verde do semáforo para seguir viagem, não importando quantos outros carros ficarão impossibilitados de trafegar no cruzamento “trancado”?

Somos muito severos para reclamar da corrupção dos governantes, em apontar os erros dos administradores, em criticar o trânsito caótico cotidiano. Mas não reparamos que tudo o que atinge a sociedade também começa nela, é um ciclo. Assim como somos culpados de eleger incompetentes e corruptos para cargos públicos, também somos responsáveis pelo trânsito que piora a cada dia. Pare e pense, será que se não estacionássemos em lugares proibidos, se não avançássemos sinais fechados, se acionássemos o alerta toda vez que mudássemos de pista ou ao fazer uma curva o trânsito não seria melhor?

É no mínimo trágico o pensamento de sair de casa e não ter a certeza de que se chegará à esquina ainda com vida. Como se não bastasse a ameaça de marginais que se multiplicam diariamente por culpa do não investimento em segurança por parte de nossos governantes, o cidadão também precisa estar atento ao terror dos motoqueiros que costuram sua passagem em meio aos automóveis, aos motoristas de ônibus que não se mantêm nas faixas devidas e aos outros indivíduos que dirigem seus veículos sem o mínimo de respeito pelos demais, como se guiassem em ruas desertas.

Todos esses fatos talvez sejam o reflexo de uma desistência geral, de uma desilusão. Vivemos em um país no qual os interesses de um pequeno grupo vêm quilômetros à frente das reais necessidades da sociedade. O cidadão comum, trabalhador, não percebe a relevância do seu grito em meio ao barulho ensurdecedor do descaso governamental. E esse cidadão está se cansando da promessa de que amanhã será um novo dia, ele já não acredita mais que dias melhores virão.

Precisamos enxergar que, se queremos viver bem, precisamos primeiro respeitar todos que nos rodeiam. Chega de deixar o carro em frente a passagens ou vagas reservadas para os que têm necessidades especiais, de estacionar em fila dupla na frente de bares e casas noturnas, de avançar em sinais fechados de madrugada sem ter a certeza de que não virá um outro veículo na rua que vamos avançar. Ao final do dia tudo o que queremos é chegar bem em casa e estar com os que nos são caros. Então, trabalhemos para que os outros também recebam tudo aquilo que desejamos para nós.

Mais do que o respeito às leis de trânsito, o respeito ao próximo é fundamental para uma sociedade que deseja viver em segurança. Para ser cidadão é necessário cobrar seus direitos e exercer os seus deveres. Isso se chama cidadania e lamentavelmente nós não temos visto isso sendo levado a sério pela população que deveria, isto sim, primar pelo cumprimento de seu dever, que é tão pouco.

Este texto foi originalmente publicado no jornal O Liberal do dia 21/11/09

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O exemplo dos promesseiros do Círio de Nazaré

Posted by Gabriel Lage Neto em 28/10/2009

No dia 11 de outubro, calculadamente dois milhões de pessoas foram às ruas para demonstrar sua devoção à Nossa Senhora de Nazaré. Dois milhões que acompanharam a berlinda que levou a pequena santa da Catedral até a Basílica de Nazaré. Dois milhões que puxaram a corda ou que simplesmente caminharam pelo percurso entre os dois templos. Dois milhões que estiveram ali para agradecer, pedir, orar e ajudar. Não há ser humano que não se emocione diante de tais atos.

Esses dois milhões de pessoas, não só paraenses, não só brasileiros, sofridos e cansados que puxaram a corda da berlinda que levava a santinha, que carregaram sobre as suas cabeças pequenas casas, tijolos e órgãos de cera, que levavam nas mãos terços, orações e velas, que rezaram e cantaram durante a caminhada, apesar de serem extremamente diferentes, possuem muita coisa em comum. Cada um crê que as melhorias que precisam em suas vidas serão providas por Nossa Senhora.

Digo que são extremamente diferentes por que, não só em nosso estado, mas em nosso país, existe um abismo que separa as classes socioeconômicas, abismo este criado e mantido pelos que estão no poder. Porém, em Belém do Pará, pelo menos em um dia do ano, esse abismo desaparece e todos se tornam iguais. Os que assistem a procissão realmente são testemunhas de um verdadeiro milagre: nas horas que separam a saída da Sé e a chegada à Basílica de Nazaré, só o que se vê é solidariedade. Promesseiros ajudando promesseiros, voluntários que trabalham na Cruz Vermelha, centenas de pessoas que distribuem água aos fiéis, algumas por promessa e outras apenas pelo ímpeto de fazer uma caridade. Não há dinheiro ou etnia que atrapalhe.

O povo tem fé e confia na intercessão de Nossa Senhora de Nazaré junto a Deus para resolver, ou ao menos amenizar, suas mazelas. E eles ajudam, e muito, os que a eles recorrem. Mas para isso Nossa Senhora de Nazaré e Deus utilizam uma ferramenta indispensável: o próprio homem. Por isso, esse espírito de solidariedade não deve se restringir apenas a um domingo do mês de outubro, os cidadãos precisam continuar querendo bem e ajudando o próximo sem se importar com suas origens e, principalmente, os governantes devem ver o muito que ainda é preciso ser feito por esse povo que toma as ruas.

Não é preciso ser onisciente para saber do que o povo precisa: trabalho, segurança, saúde e educação. Está muito claro e só não vê, e não resolve, quem não quer. Dois milhões de pessoas é um número muito pequeno em relação à população de nosso país, mas deveria ser o suficiente para chamar a atenção dos que governam para o que tem que ser feito.

Duas semanas depois do segundo domingo de outubro, a santinha volta ao seu nicho, onde fica durante todo o ano, no Colégio Gentil Bittencourt. A imagem de Nossa Senhora de Nazaré que fica na Basílica Santuário sobe ao Glória. E novas demonstrações de fé, novos agradecimentos e novos pedidos por graças em busca de dias melhores voltamos a testemunhar. É como se nós, paraenses, estivéssemos vivendo o nosso Ano Novo, pois só daqui a um ano teremos novamente o nosso Natal, a santinha volta a ser reverenciada e é Círio novamente.

Seria ótimo se todos os governantes do Brasil pudessem assistir ao Círio de Nazaré e testemunhar os atos de fé, devoção, agradecimento e solidariedade popular. Quem sabe aprendessem alguma coisa com o exemplo dos promesseiros, talvez percebessem o peso da responsabilidade que têm nas mãos e que a solução de muitos problemas não requer um milagre muito poderoso, apenas trabalho. Infelizmente é improvável que os responsáveis pela situação na qual nosso estado e nosso país se encontram se sentissem tocados pela perseverança, pela força e pela crença do povo, pois é impossível crer que quem se beneficia à custa de tanta gente sofrida ainda possa ser considerado humano.

* Este texto foi originalmente publicado no jornal O Liberal do dia 24/10/09

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O que realmente importa

Posted by Gabriel Lage Neto em 14/09/2009

Há poucos dias eu estava em uma reunião religiosa onde estava sendo discutida a parábola do filho pródigo. Primeiramente foi feita a leitura e ao final alguns dos presentes deram suas interpretações sobre a mensagem contida naquela narrativa mitológica. Faço aqui um breve resumo para os que não estão familiarizados com a história: havia um senhor que tinha dois filhos, certo dia o mais novo deles pediu sua parte da herança e partiu para longe. Após gastar tudo o que tinha e sem ter o que comer, decidiu voltar e pedir o perdão do pai, mesmo que para isso tivesse que se humilhar. Ao ver o filho retornando, o pai mandou que lhe vestissem com as melhores roupas, que matassem um cordeiro e que fizessem uma festa. Ao presenciar tudo isto, o filho mais velho ficou indignado, ao perceber sua revolta, o pai fez questão de lhe explicar: – Fiz tudo isso pois seu irmão, que estava perdido, foi reencontrado.

Aquela velha conversa de que nunca lemos o mesmo livro duas vezes, também se aplica aqui. Há muito tempo eu não ouvia essa história e dessa vez ela me trouxe uma mensagem diferente. Imaginem um pai que tem apenas dois filhos e vê o mais moço partir, se perder na vida. Com o passar do tempo, já sem esperanças de revê-lo, este lhe aparece com o juízo perfeito e com uma lição aprendida. O pai teve a garantia de que seu filho estava realmente bem, definitivamente de volta e para obter esta graça apenas precisou dar metade do que tinha. Nada além de bens materiais que não lhe dariam nenhum conforto caso seu filho tivesse morrido.

Esta é uma parábola muito interessante para o nosso tempo, no qual a abundância de dinheiro e posses é julgada fundamental por grande parte da sociedade. Na contramão deste pensamento quase unânime, o sociólogo paulista Cláudio Coelho afirma que o culto ao dinheiro e à propriedade não é inerente à nossa natureza, e sim uma criação histórica, que pode perfeitamente sumir.

Temos cada vez menos tempo, vivemos atarefados, preocupados com o acúmulo de renda, com as contas a vencer e não percebemos que estamos correndo em círculos. Parando um pouco para pensar, que lógica tem o consumo exagerado, seguido pelo trabalho incessante, seguido do sofrido pagamento das contas (geralmente em parcelas a perder de vista), que nos dá o pretexto de consumirmos novamente e começar tudo mais uma vez? Outra pergunta: por que muitos trabalham em empregos que nem ao menos lhes dão prazer, somente para ter um pouco mais de dinheiro para comprar ainda mais coisas, que no final nem são realmente necessárias?

A posse de muito dinheiro, ou de bens materiais que conferem status aos seus proprietários perante a sociedade, na verdade não é importante. O que importa é onde o indivíduo emprega sua renda, seja ela grande ou pequena. Gastar como bem entender o seu dinheiro é direito de todos, e não cabe a ninguém recriminar alguém pelo modo como gasta seus ganhos. Mas é no mínimo estranho, em uma realidade social como a nossa, alguém gastar centenas de reais em uma simples calça jeans, enquanto muitos não conseguem colocar um pão na mesa.

Já que nossos governantes não se importam, pois, como políticos que são, se interessam apenas em fazer política, façamos nós a nossa parte. Deixemos de lado o glamour do “ser” e do “ter” e, sem ligar para a crença, ou para a falta dela, aprendamos com a parábola do filho pródigo: Nem todo o dinheiro do mundo compra a paz de espírito que a certeza do bem estar de nossos semelhantes proporciona.

* Este texto foi originalmente publicado no jornal O Liberal do dia 14/09/09.

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Estamos fartos!

Posted by Gabriel Lage Neto em 24/08/2009

De acordo com o artigo 5º da constituição federal, todos os brasileiros são iguais perante a lei, sem qualquer tipo de distinção. Sendo essa determinação de conhecimento público, é muito estranho que em nosso país, há bastante tempo, ocorram certos fenômenos que nos fazem duvidar da seriedade com que as autoridades encaram estas tão importantes determinações.

A ignorância sempre serviu de álibi para justificar as falhas. Em nosso país o “eu não sabia de nada” tornou-se praticamente um bordão de uso obrigatório daqueles que querem se desvencilhar de irregularidades cometidas. Alegando desconhecimento do que é correto, muitos já usaram e abusaram da ingenuidade e paciência de nosso povo: é dinheiro público que leva a família do político para o exterior, que banca o lazer da namorada famosa (que também não sabia de nada), que paga o salário do namorado da neta. Tudo sempre é perdoado sob a alegação de suposto ressarcimento dos valores ou de que essas coisas são normais, jogos do poder.

Atos como estes são punidos? Sim, esporadicamente. Porém, alguns anos depois, os envolvidos nessas nebulosas questões surgem novamente, como em um passe de mágica. Cumprem seu “exílio político”, geralmente passado no exterior, e refazem seu caminho do ostracismo até ao governo, como no princípio, erguidos pelos braços populares. Desmemoriados populares.

Por que isso acontece? Por que o indivíduo comum quando rouba é preso, torturado e até morre nas nossas superlotadas prisões, enquanto os engravatados de colarinho branco recebem afagos nas cabeças, tapinhas nas costas e continuam no poder? Será que a era dos jurássicos coronéis ainda não passou? Será que ainda se consegue ganhar no grito e na batida de pé? Diariamente o povo é atingido por acontecimentos que mostram quão demagogo o discurso governamental ainda consegue ser.

A impunidade dos políticos, estes cidadãos de imagem pública, acaba se refletindo nos indivíduos comuns e até naqueles que deveriam cuidar para que as leis fossem cumpridas por todos. Pouco a pouco vemos as sementes podres plantadas pelos poderosos germinarem no ventre da sociedade.

Indivíduos considerados “bem nascidos” roubando, agredindo, seqüestrando e matando já não são mais personagens de novela. São bem reais e estão mais próximos do que imaginamos. Profissionais respeitados e reconhecidos são autores dos mais revoltantes crimes.

Não podemos deixar que o poder seja um passe livre para burlar as leis, para ofender, humilhar e violentar quem quer que seja. A corrupção política serve de exemplo para o abuso de autoridade que serve de exemplo para a prática criminosa do cidadão. Todas estas práticas estão garantidas pela segurança da impunidade, pela falsa valentia escondida atrás do famoso “sabe quem eu sou?”.

Todos sabemos quem somos: indivíduos comuns, iguais perante a lei, sem nenhum tipo de distinção; brancos, negros, amarelos ou vermelhos; pobres ou ricos; homens ou mulheres. Somos iguais em direitos e obrigações. Nossa intimidade, honra e imagem são invioláveis. Possuímos livre pensamento e expressão. Diante de tanta impunidade, rejeitamos o anonimato e, todos juntos, declaramos publicamente: estamos fartos!

Este texto foi publicado originalmente no jornal O Liberal, no dia 21/08/09

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Individualismo e medo

Posted by Gabriel Lage Neto em 12/08/2009

Uma das principais marcas da sociedade contemporânea é o individualismo. Os centros urbanos são caracterizados por reunir a maior parte da população de um país, e no meio desses milhões de pessoas, por mais que algumas tentem, nenhuma consegue ser igual à outra. Temos diferentes gostos musicais, diferentes crenças e religiões, diferentes modos de agir, vestir e de nos relacionar com o próximo.

Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, as cidades sempre foram lugares onde convivemos diariamente e muito proximamente com estranhos, cuja maneira de pensar e intenções nós ignoramos. O que é mais curioso nisso é que, mesmo com esta repetida convivência, permanecemos desconhecidos uns aos outros. Isolamo-nos em cantos de elevadores atrás de caras fechadas e óculos escuros, evitamos a conversa em transportes públicos protegidos por aparatos portáteis de áudio e vídeo, vivemos encerrados dentro de carros, escondidos por vidros escuros, temerosos de qualquer um que se aproxime.

Todos os dias levantamos muros em lugares onde deveríamos estar construindo pontes. É certo que a influência que a aparência exerce sobre nós é inegável, levados pela superficialidade da imagem acabamos por ter medo do contato com o diferente. Caetano Veloso, na letra de “Sampa”, traduz perfeitamente este sentimento nos seguintes versos: “chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto” e “foste um difícil começo, afasto o que não conheço”.

Obviamente esse medo que ocasiona o individualismo não é em vão. Estamos sempre em contato com pessoas que nos relatam episódios violentos acontecidos consigo ou com conhecidos, mal conseguimos estacionar um carro, em qualquer lugar que seja, sem que precisemos, literalmente, pagar para não sermos roubados, hostilizados ou agredidos. No passado as cidades, com seus altíssimos muros, foram construídas pela insegurança que a selva causava aos indivíduos. A presente situação não é muito diferente: continuamos apavorados, mas desta vez dentro das cidades. Pavor este que fez com que nos escondêssemos mais ainda, atrás de grades, cercas eletrificadas, guardas armados, câmeras, alarmes e cães ferozes. Trocamos o conforto existencial pela segurança aparente.

Outro sociólogo, dessa vez o francês Michel Maffesoli, defende que ao invés de rotularmos pela aparência e nos afastar, devemos primeiro interagir, tentar compreender o diferente. Olhar o que não é igual sem raiva ou ódio, pois existem diversas maneiras de ser e pensar e nenhuma delas está mais correta do que a outra.

Sejamos compreensivos, tolerantes com o diferente. Porém críticos com os governantes que deveriam garantir a segurança da sociedade em geral, já que pagamos, e caro, por isso. Nossos políticos deveriam ser os primeiros a perceber os males que uma sociedade individualizada produz, e não usar nosso dinheiro para custear viagens internacionais ou pagar salários para parentes, mas em educação e segurança.

Termino este texto imaginando um mundo diferente, no qual não precisaríamos de muros para nos defender de nossos semelhantes. Um mundo no qual teríamos menos confronto e mais tolerância, menos empáfia e mais interação, menos desonestidade e mais compromisso, menos medo e bem mais esperança.

* Este texto foi publicado originalmente no jornal O Liberal do dia 08/08/09

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Educação contra a violência

Posted by Gabriel Lage Neto em 27/07/2009

Chega a impressionar o volume de notícias sobre crimes hediondos que têm sido bombardeadas sobre a sociedade brasileira nos últimos tempos. Fazendo rápidas leituras em sites jornalísticos nacionais podemos perceber este fato através de manchetes como: casal de agricultores e filho de 11 anos são mortos no Pará, filho esfaqueia pai por causa do volume da televisão em Alagoas, mãe e filho são mortos a tiros e facadas em Pernambuco e chacina de uma família choca paraibanos.

Uma maneira de se explicar o inexplicável (ou seja, a razão pela qual estas barbáries acontecem, deixando de lado os motivos inspiradores dos crimes, geralmente banais) é indicar que os criminosos são pessoas sem instrução. Não deixa de ser uma afirmação correta, porém a instrução necessária a todos nós é muito maior do que aquela ensinada em salas de aula. O Brasil é claramente um país deficiente em educação, e aqui não me refiro somente à educação que deveria ser garantida pelo governo e pela sociedade através de instituições de ensino públicas e particulares.

O nível do ensino em nosso país, ao contrário do que dizem as sazonais propagandas políticas, está bem abaixo do aceitável. Nossas crianças e adolescentes entram em contato cada vez mais cedo com temas como violência e sexualidade sem terem uma apropriada preparação intelectual para distinguir o que é certo do que é errado, deixados à própria sorte para fazerem suas escolhas e deduções.

As crianças desorientadas de hoje viram os pais despreparados de um amanhã nem um pouco distante, já que a gravidez no início da adolescência é um fato que não causa mais nenhum espanto em nossos dias. A maioria desses pais sem preparo dará aos seus filhos o mesmo tratamento que lhes foi dispensado na infância, completando assim o círculo sem fim do descaso educacional ao qual os pequenos já estão mais do que acostumados.

No início deste texto falei sobre uma educação que ultrapassa aquela que é ensinada nas salas de aula, e que, com certeza ajudaria muito a diminuir o nível da violência não só no Brasil, mas no mundo, esta é a educação mitológica. Já há algum tempo me interesso em ler sobre mitos de várias partes do Oriente e do Ocidente, incluindo alguns brasileiros, e posso dizer que a mitologia nada tem a ver com histórias fantasiosas ou imaginárias, ela está presente em nosso cotidiano sem que percebamos, nos ajuda a compreender quem somos e o mundo no qual vivemos.

Alguns personagens mitológicos são verdadeiros porta-vozes da valorização da vida humana. Conhecer seus exemplos certamente levaria um indivíduo a entender que ao dar cabo da vida de um de seus semelhantes está também privando alguém de seguir seu curso natural, de atingir todo o potencial ao qual todos estamos destinados.

É certo que vivemos em um mundo intelectualmente desmitologizado e que, há algum tempo, a mitologia não tem lugar na educação da sociedade. Talvez isso se deva a, errônea, dedução de que mito é igual a mentira. Personagens mitológicos estão por toda a parte, geralmente são entes sobrenaturais, mas também podem ser pessoas de carne e osso, conhecidas por grandes atos, como Martin Luther King, Gandhi, Betinho e, até mesmo, Buda e Jesus Cristo.

Invistamos, então, na educação mitológica, e não a destinemos somente às crianças, mas sim à sociedade em geral. Veremos que assim a sapiência ganhará da ignorância, o diálogo da agressão e a pena, final e definitivamente, da espada.

Este texto foi originalmente publicado no jornal O Liberal do dia 25/07/09.

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Sugestão para o dia das mães

Posted by Gabriel Lage Neto em 06/05/2009

Neste dia das mães o melhor presente que você pode dar para a sua é este: nenhum. Quero dizer, nenhum presente material, nada do que anunciam incansavelmente na televisão que sua querida mãe merece. Nada de celulares, aparelhos de DVD, sapatos, roupas ou jóias, isso é papo furado de publicitário.

No lugar dessa parafernália supérflua e sem valor dê o que toda mãe quer de verdade, tudo bem, algumas até valorizam essas bobagens supérfluas, mas com certeza também apreciarão imensamente o que você tem a dar: amor.

No final das contas, todos os bens materiais exaustivamente comprados e pagos naquelas parcelas a perder de vista só dão alegria mesmo para as mães dos seus fabricantes e revendedores. A alegria da sua mãe por receber o presente dura o que? Na melhor das hipóteses, se ela gostar do que ganhou, um mês, ou até o celular quebrar, a roupa manchar e o sapato perder o salto, o que acontecer primeiro.

Amor de filho é um bem imperecível, com garantia pra vida toda e mais um pouquinho. Transforme esse dia criado pelo capitalismo apenas com o fim de lhe endividar e ganhar mais um dinheirinho em uma oportunidade de demonstrar seu carinho por sua mãe.

Ficamos combinados assim, então: Esqueça os shopping centers lotados e dedique o dia inteiro somente àquela que lhe ama com ou sem presentes nas mãos. No final ficará a certeza que dinheiro nenhum pode comprar, mesmo com todas as diferenças e desacordos, o amor de mães e filhos é um dos mais valorosos existentes.

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Um post que realmente vale a pena

Posted by Gabriel Lage Neto em 11/03/2009

Desde que comecei com esse negócio de blog nunca tive vontade nem simpatizava com a idéia de postar um texto de outra pessoa só porque eu o achava muito bom.

Mas como estou em uma entressafra criativa acho que não pega tão mal.

Mas primeiro a explicação:

Esse é um texto do Antonio Prata, que recebi por e-mail em 2005, enviado por um dos meus grandes melhores amigos. Achei o texto muito bom e me identifiquei de cara, apesar de, na época, só me considerar meio intelectual. Eu não entendia que ser de esquerda, ou meio de esquerda não tem nada a ver com partido político e sim com posições e interesses politícos e civis.

Enfim, enquanto nada criativo sai da minha mente, fiquem com o texto do Antonio Prata:

Bar ruim é lindo, bicho
Antonio Prata

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas tudo bem).

No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por Betão – é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.

– Ô Betão, traz mais uma pra a gente – eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectuais, meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.

O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, saca?).

– Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

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